Mosteiro do Bom Jesus de Barrosas

O santuário do Bom Jesus de Barrosas situa-se no alto do Lugar de Barrosas, outrora designado por Lugar da Portela (Dias 2011: 92). A Portela seria a zona de passagem da importante via medieval oriunda da Ponte de Entre os Rios em direção a Ponte de Tagilde ou a Ponte Velha de Vizela. A veneração ao Bom Jesus de Barrosas em finais do século XVII/inícios do século XVIII originou a mudança da designação do lugar, passando-se a designar Lugar do Bom Jesus de Barrosas (Dias 2011: 92).

Do conjunto formado pela igreja, largo e cruzeiro é a imponência do templo que mais se destaca, indicando um grande centro devocional que terá resultado de uma iniciativa particular.

A cronografia devocional neste local começa nas visões de Domingos França, pastor, a quem Cristo se teria manifestado. Este mesmo pastor terá mandado aí edificar uma pequena capela em no século XVII, 1672, tendo o seu irmão adquirido a um escultor de Barcelos a primeira imagem do Cristo Crucificado, a qual hoje se encontra colocada no cemitério local (Fernandes 1989: 144).

A existência de uma grande capela no primeiro quartel do século XVIII fica patente na breve descrição que Craesbeeck nos faz, referindo-se a ela como um grande templo moderno, onde ainda coexistia a pequena capela edificada por Domingos França. Segundo o autor esta nova construção foi originada pela intensa romagem ao local e pelas esmolas que aí eram depositadas pelos fiéis. Ainda de acordo com o mesmo autor, segundo uma inscrição agora inexistente a primitiva construção terá sido iniciada em 1672 (Cardoso 2014: 44-45).

O forte cariz devocional do Bom Jesus de Barrosas levou a um aumento considerável das esmolas e dos legados pios, como fica patente nas visitações do século XVIII, o que originou uma capela à imagem de uma igreja matriz que foi sendo constantemente intervencionada, tornando-a uma espécie de obra inacabada. Os rendimentos deste templo durante o século XVIII são extremamente elevados. Em 1709, por exemplo, Dom Rodrigo de Moura Telles, arcebispo de Braga, manda colocar as caixas das ofertas pias para o interior das grades ao mesmo tempo que fixava as taxas de cinco tostões de covagem, 5000 réis para quem quisesse ser enterrado das grades até ao arco cruzeiro e 10 000 reis para ser enterrado na capela mor (Cardoso 2014: 46-47).

A par das taxas impostas pelo arcebispo de Braga para os enterramentos, que pelos valores atrás referidos não seriam acessíveis a todos, mesmo para aqueles que fossem enterrados na nave, as remessas de dinheiro provenientes dos brasileiros torna-viagem também foram importantes para as diversas remodelações do templo. Exemplo disso é os 674 180 réis que Paulo Macedo de Minas Gerais mandou entregar em 1718 através do capitão João Ferreira de Sousa. Na gestão nestes aspetos económicos e religiosos terá sido importante a criação da Confraria do Bom Jesus de Barrosas ainda durante o século XVII, confraria essa que mais tarde se vai passar a denominar de Irmandade (Cardoso 2014: 46-47).

O aumento de fiéis e a distância para a igreja de Idães, durante a mesma visita de 1709, originou que o arcebispo ordenasse que se dissesse missa na capela em todos os domingos e dias santos, das dez para as onze, ficando o Padre João Espírito Santo com as funções de ermitão (Cardoso 2014: 47).

Esta função de ermitão deveria ser atribuída pelo arcebispo anualmente, tendo em conta dois documentos com a nomeação de Manuel Fernandes de Jesus, por parte Dom Rodrigo de Moura Teles, em 1717 e 1718 para o cargo pelo tempo de um ano, sendo a provisão de 1718 mais explicita “para que possa continuar com a dita ocupação pelo tempo de um ano” (ADB.Lv.153.fol. 13v e 123v).

Apesar das obras no edificado não serem muito explicitas nos capítulos de visita, sabemos que o edificado foi sofrendo algumas ao longo do século XVIII e XIX. Ao longo do século XVIII destacamos: em 1725 foi mandado concertar e pintar o forro da nave; em 1750 a pequena capelinha foi englobada pela nova construção, mandando-se que se fizesse um novo forro, que se coloca-se azulejos na porta que fora entaipada e se abrisse uma fresta; em 1761 procedeu-se ao alargamento dos vãos das janelas e em 1773 contratou-se um novo retábulo mor e arranjou-se a parede do lado direito (Cardoso 2014: 48).

No século XIX ter-se-ão realizado as obras de fundo que terão profundamente alterado os dois edifícios anteriores do século XVII e XVIII. Sabemos que em 1806 se terá dado início a profunda reforma e transformação da capela no templo que hoje visualizamos. O visitador, António Ribeiro de Alvarenga manda que se proceda ao alargamento do corpo da igreja e se inicie a construção de uma segunda torre e nova frontaria. Em 1822 ainda há notícias que se ordena que sejam refundidos dois sinos partidos para fazer um só e para se levantar duas sineiras de pedra sobre a torre sineira do santuário. As fontes documentais não são muitos claras quanto a cabal execução destas obras do primeiro quartel do século XIX, já que em 1886-1887 José Augusto Vieira faz-nos uma descrição do templo como este estivesse em construção, chegando mesmo a vulgarizar até o seu estilo arquitetónico “…será, por isso, depois de completo, um espaçoso armazém de piedade, mas nunca um monumento de arte”. Este texto é acompanhado por uma gravura no “Minho Pitoresco” que ainda nos suscita mais dúvidas, já que na mesma gravura é representada a torre direita da fachada ainda em construção (Cardoso 2014: 48-49).

O edifício insere-se nos modelos neoclássicos que foram reproduzidos no século XIX um pouco por toda a região norte do país.

A construção de planta retangular com capela mor e nave, esta última ligeiramente mais larga que a capela mor, é totalmente rebocada e pintada possuindo apenas os cunhais e as molduras salientes de portas e janelas em granito aparente.

A fachada tripartida é marcada pelas duas torres laterais com remates diferenciados, a da esquerda em coruchéu e a da direita com remate bolboso, e pelo pano central saliente marcado por pilastras laterais e pela abertura do portal, envolvido por uma moldura que se prolonga até à janela de sacada do coro alto, terminando com um frontão triangular. No lintel do portal frontal ostenta a frase bíblica “Non est hic aliud, nisi domus dei, et porta caeli” (Genesis 28:17) que significa “Não é nada menos que a Casa de Deus e a Porta do Céu”. Esta inscrição sem dúvida que traduz a imponência e a importância deste templo ao longo de vários séculos.

As fachadas laterais e posterior são rasgadas por inúmeros vão de janelas que promovem a intensa iluminação interna. A estes vãos correspondem capelas e púlpitos com sanefas em talha dourada. Os tetos em abobada são pintados, interrompidos pelo arco cruzeiro, entre a nave e capela mor, também ele revestido a talha dourada, muito provavelmente do século XVIII.

Possui três altares que representam a Paixão de Cristo, um na capela mor e dois laterais, sendo o primeiro dedicado a Crucificação, e os laterais representam a Piéta e o Ecce Homo.

Em volta do templo o adro é fechado sobre si por gradeamentos em ferro forjado, sendo apenas interrompido pela escadaria frontal que dá acesso ao largo ajardinado. Este conjunto está perfeitamente integrado na malha urbana de Barrosas, possuindo algumas construções adossadas aos limites do adro e outras a ladear este magnifico templo, como é o caso da Casa dos Ferreira de Melo, cujo brasão ainda ostenta, do terceiro quartel do século XVIII, e onde terá funcionado o julgado de paz.

Bibliografia
Cardoso, Cristiano; Sousa, Luís (2014) Santa Maria de Idães – património Religioso. Dalmática, Conservação e restauro, Lousada.
Fernandes, Antonino M. (1989) Felgueiras de ontem e de hoje – Felgueiras: Câmara Municipal de Felgueiras

Arquivo Distrital de Braga. Registo Geral. Provisão favor do ermitão Manuel Fernandes de Jesus. Livro 153. fol. 13v e 123v.