Calvário ou Via Sacra e Capela do Encontro de Caramos

Esta capela da segunda metade do século XVII, a qual ainda ostenta a data de 1637 no lintel da porta lateral noroeste, foi sendo profundamente remodelada e ampliada ao longo dos séculos seguintes, como indicam as diversas inscrições presentes em várias zonas do edifício, tornando-se um importante local de culto até os dias de hoje.

No século XVI, no tombo de 1554, sabemos que o assento do mosteiro se estendia até o monte de Santa Marta (ADB, L.268, fol. 2 e 2v), enquanto no século XVIII a Capela de Santa Marta figura como filial do mosteiro (Craesbeeck 1992: 22). Estas fontes corroboram a presença dos dois cruzeiros de 1688 como indicadores inequívocos da posse deste território por parte do cenóbio.

As primeiras referências documentais, conhecidas até ao momento, alusivas a este culto em Caramos remontam à primeira metade do século XVIII. O primeiro documento, de 1717, refere-se a uma provisão para a procissão dos Santos Passos a favor do Juiz e mais oficiais da confraria do Santíssimo Sacramento de Caramos. Indiciando que esta confraria estaria encarregue da organização de todo o ritual processional (ADB, L. 153, fol. 10v-11). O segundo documento, datado de abril de 1729, indica que foram lavrados os primeiros estatutos do Senhor dos Passos em favor dos seus devotos (ADB, L. 48, fol. 68v-69v).

Era usual no século XVIII fazerem parte deste ritual 14 estações que retratavam a caminhada de Cristo até ao Calvário, contudo o percurso de Caramos foi reduzido para sete estações.

O percurso entre o mosteiro e a Capela de Santa Marta é marcado por sete capelas que assinalam as sete estações: 1ª Capela das Oliveiras; 2ª Capela do Encontro; 3ª Capela do Senhor da Agonia; 4ª Capela do Senhor dos Sentados; 5ª Capela do Senhor das Varandas; 6ª Capela do Senhor das Pedras; 7ª Capela do Calvário.

Com a exceção da Capela do Encontro, que possui uma arquitetura distinta, as restantes são pequenas edículas de planta quadrangular com quatro pináculos sobre os cunhais. Apenas a fachada é rasgada por um vão de porta de arco de volta perfeita, fechado por uma porta de duas folhas com duas pequenas janelas gradeadas. No interior, variando de capela para capela, possuem esculturas em madeira ou quadros pintados que retratam os diferentes cenários da via sacra em cada uma das estações.

A Capela do Encontro, de maiores dimensões que as restantes, possui planta quadrada, com cunhais salientes em granito encimados por pináculos, e cabeceira semicircular. A cobertura do corpo é de quatro águas e a da cabeceira é cónica.

A fachada principal possui um portal de arco de volta perfeita, idêntico as restantes capelas, encimado por um frontão de arco quebrado, ladeado por uma pequena janela quadrangular fechada com gradeamento em ferro de cada um dos lados da porta. O alçado sudoeste é rasgado por uma porta de arco de volta perfeita com moldura saliente. A cabeceira semicircular possui dois vãos de janelas retangulares fechados por gradeamento de ferro forjado.

No interior exibe um conjunto escultórico que retrata o encontro de Cristo com os soldados romanos. Apesar de não se conhecer o autor das esculturas ou o período das mesmas, estas deverão ser coevas a construção da capela no século XVIII.

A ladear a Capela do Encontro deparamos com um conjunto escultórico de grande valor simbólico e artístico. A representação da crucificação de cristo ocupa lugar de destaque na frente voltada ao itinerário processional, onde figuram três cruzes, com a central dotada da imagem de cristo crucificado. Em segundo plano deparamo-nos com um raro Pietá de pedra, que pretende representar o sofrimento da Mãe de Cristo, ao ver seu filho morto, conhecida por Senhora das Angústias.

Bibliografia

Arquivo Distrital de Braga. Registo Geral. Provisão a favor dos devotos do Senhor dos Passos da freguesia de São Martinho de Caramos. Livro 48.

Arquivo Distrital de Braga. Registo Geral. Provisão para a Procissão dos Santos Passos da freguesia de São Martinho de Caramos. Livro 153.

Arquivo Distrital de Braga. Registo Geral. Provisão favor do ermitão Manuel Fernandes de Jesus. Livro 153. fol. 13v e 123v.

Craesbeeck, Francisco Xavier da Serra (1992) Memórias Ressuscitadas da Província Entre Douro e Minho no Anno 1726. Volume II. Ponte de Lima. Edições Carvalhos de Bastos.